segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Descaso e jogo de Esconde-Esconde - Novo acidente na Nestlé/Garoto



Na semana em que a Garoto se submete a nova auditoria em busca de mais um certificado ISO, a ocorrência de mais um acidente é “abafada”. Pior, mais uma vez o trabalhador “abriu mão” de seu atestado médico para ficar nas áreas da empresa.  José Fenandes de Oliveira  acidentou-se e em 14 de janeiro e teve múltiplas fraturas nos dedos da mão. Recebeu 15 dias de atestado, mas foi “convidado” pelo departamento médico e de segurança a não cumprir a determinação médica. José Fernandes, que procurou o sindicato, conta o que o ocorreu e desabafa diante dessa absurda situação que se repete mais uma vez.

O acidente ocorrido às 23h00 no início da jornada mudou a rotina de  José Fenandes de Oliveira, trabalhador da Garoto há 7 meses.  O trabalhador teve múltiplas fraturas nos dois dedos centrais da mão esquerda. Levado ao hospital pela empresa, José recebeu seu atestado médico inicial de 15 dias. “O médico me pediu para retornar depois para pegar um laudo, pois meu caso exigia afastamento por mais dias”, explica Fernandes. Ao retornar para casa um enfermeiro do Serviço médico da Empresa informou que Fernandes deveria retornar à Empresa no Domingo, às 13h00, para falar com a médica do setor. Com dores, Fernandes ainda aguardou por uma hora pelo atendimento na enfermaria da empresa.  “A médica tentou me convencer a vir trabalhar mesmo nessas condições. Prometeram-me um outro cargo dentro da empresa, o de ‘’multiplicador’’, onde não  teria de  fazer nada, mas  para  isso  teria  de  vir  naquele  domingo mesmo trabalhar à noite. Eu vim assim mesmo, com a mão  inchada e dolorida.” conta Fernandes. O trabalhador tentou  trabalhar,  mas  sem  condições, retornou para casa, voltando a trabalhar na terça-feira. O telefone  de  seu  irmão,  porque o dele foi roubado dentro do vestiário, recebeu pelo menos 15 ligações da empresa. “Quando  liguei, o supervisor atendeu e disse que a segurança pediu pra ele ligar e que era  para  eu  vir  pela manhã  para fazer um  treinamento. A  empresa insistiu  que  eu  deveria vir pelo menos  à  tarde  para  fazer  um treinamento para ser multiplicador à noite. Eu me senti pressionado a vir  trabalhar.  Eu vim trabalhar o restante da semana para  fazer o  tal treinamento que não teve.   Fiquei an dando pela  fábrica e acompanhando um  grupo que  estava  fazendo  um diálogo de SGI. Na quarta-feira me colocaram no setor de Qualidade para digitar controle de CEP ( Controle Estatístico de Processo). Eu  fazia  isso apenas com uma das mãos. O restante da semana foi andar pela fábrica, sem ter o que fazer em alguns momentos e com a mão doendo,”detalha.  A empresa acabou  indicando  que Fernandes  poderia  trabalhar  na  produção  e o trabalhador  foi  para  a  linha,  tendo,  inclusive,  contato  com produto.  Como tinha de apoiar a mão no alumínio da esteira, Fernandes sentia choques pequenos na mão, provavelmente por causa por causa da placa de alumínio que sustentava o dedo. 
Esse episódio também deixou claro qual era a preocupação principal da empresa. 

“No meio da discussão a médica falou para a segurança assim: ‘’...E no dia da auditoria, onde a gente enfia?’’ e aí a (moça) da Segurança do trabalho respondeu: 
“ É  terceiro  turno”.

“Depois de ouvir muitos companheiros que disseram que eu estava errado em abrir mão do meu atestado, decidi não abrir mão. Sei que a empresa pode até me demitir por isso, mas o que me motiva é que eu acho que eles querem tirar o meu direito de me recuperar. O importante pra eles é não registrar o acidente com afastamento porque poderá gerar transtornos pra eles. Desde que não gere pra eles, para o funcionário tanto faz. Se eu for demitido, pelo menos não estou compartilhando com isso. Hoje sou eu, amanhã vem vários. Enquanto um não abrir a boca, ninguém vai abrir.’’
  
José Fernandes de Oliveira